Tentava se
concentrar enquanto rezava o terço, todavia uma cólica intestinal exigia sua
atenção e parecia fazer questão de lembrá-lo, a todo o momento, do seu lado
mais humano. Com muito esforço, chegou ao quinto mistério, porém a vontade tornou-se
incontrolável. Correu em disparada ao banheiro com terço e tudo, arriou as
calças, sentou-se no vaso e, quando finalmente ia dar cabo ao seu intento, o
seguinte pensamento invadiu-lhe a mente: ‘Será pecado rezar e cagar ao mesmo
tempo?’. O questionamento travou-lhe o esfíncter . Ficou ali, sobre o vaso, de terço nas mãos,
balbuciando uma ave-maria e tentando achar uma resposta. Enquanto
isso, a vontade ia reformulando-se em pequenas ondas até se tornar uma imensa
onda em pleno mar revoltoso. Apressou a reza, segurou o máximo que pode mas,
antes de dizer o amém final, aquilo tudo veio abaixo como golpes de um martelo
furioso.
Sentiu vergonha de si mesmo, até
porque o alívio era extremamente prazeroso. Sentiu vergonha de Deus, certamente
ele havia presenciado tudo, visto que em todo lugar está. E o esforço? Todo em
vão! Restou-lhe o confessionário. Mal limpou a bunda e subia as calças e pôs-se
a caminho da igreja.