Seguindo uma constante entre os melhores poetas brasileiros, a poesia de Eryck
Magalhães é sem dúvida marcada por uma profunda e obstinada busca da palavra
justa, navegando, conforme ensinado por João Cabral, perigosamente entre os
rios da participação e da construção, sina, por motivos óbvios, de literaturas
como a nossa. Mas que fique desde já afirmado: este é um poeta de timbre
próprio.
Numa primeira leitura, a surpresa impõe-se, derivada justamente de sua
riqueza. Há uma multiplicidade de temas, dicções e recursos que contrasta com a
concisão tanto do livro quanto com a de quase todos poemas aqui presentes. Seus
temas variam do amor --- “Passeio de fim de tarde” --- à metalinguagem de
“Receita caseira”; do prazer lentamente saboreado de uma descoberta da infância
--- “Aroma de amora” --- à noite sórdida --- “Sentinelas”.
As dicções, por sua vez, remetem a um intenso diálogo mantido pelo poeta
com a tradição literária na qual se encontra inserido, por exemplo, “Antipoema”
ecoa “Autopsicografia” de Pessoa, “Av. Paulista” é explicitamente oswaldiana, “Imperfeições
da Linguagem” aponta para os concretistas e o humor nonsense de José Paulo Paes.
Mais duas últimas coisinhas sobre essa poesia instigante. A infinidade de
recursos poéticos manuseados em Ecos e
outros versos mereceria um parágrafo, impossibilitado, contudo, uma vez que
o espaço se esgota. Só um toque: atente-se à espacialização do já citado
“Imperfeições da Linguagem” e a do “Metrópole Concreta” ou às aliterações e
paranomásias de “Resquícios”. Um outro toque: a temática tratando da questão
negra no Brasil ocupa vários poemas, fato por si só capaz de suscitar
indagações no leitor, deve ser lembrado, porém, a participação de Eryck
Magalhães na Educafro, curso Pré-vestibular voltado a afrodescendentes,
primeiro como aluno depois como coordenador, como também essa matéria ter
ocupado o autor no período de conclusão de seu curso superior em Letras.
Por fim, há reparos sem dúvida, mas isso são senões diante de uma obra
que se inicia, pedras no caminho, mas pedras no meio do caminho, de acordo com
Drummond, compõem o itinerário da poesia, assim, por ora, usufruam, deleitem-se.
João dos Santos Clemente Neto