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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Tautologia


Inesperadamente, não se sabe de onde, surgiu um homem com uma borracha até certo ponto comum, e apagou todas as palavras do mundo. Insatisfeito, entrou nas mentes de toda a gente e de lá arrancou todas as palavras. Finalmente partiu para não se sabe onde, levando-as consigo.
Com muito custo, algum tempo depois, algumas pessoas começaram a se lembrar de alguns vocábulos. Porém, por mais que se esforçassem, não conseguiam se lembrar de seus significados. Logo, o que era até então conhecido como árvore passou a ser chamado de terra, a terra agora era rio, o rio, nuvem. Talvez o mais inusitado tenha acontecido com o amor que virou ódio. Não era raro ouvir dos casais apaixonados a insólita declaração “eu te odeio”, dita com extrema delicadeza e sinceridade que fazia apetecer qualquer coração.
No mais, tudo ficou como era antes, mesmo não sendo.

6 comentários:

  1. Boa ideia de esvaziamento de linguagem... compor novamente os valores que é o lance!!
    Bravo!
    André

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  2. perfeito, demais. fico com o comentário do André.

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  3. Vocábulos....falar diferente...será? Assim o diferente logo será o mesmo...igual...o vício.
    Abraços
    Lucy

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  4. Odiei o texto - isso dito com toda a extrema delicadeza e sinceridade que existe nesse texto - e apetece qualquer coração.

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  5. Mandou bem, Eryck. Em sua vitrine há mais que poesia. Há prosa em grande estilo, principalmente. Enfim, literatura da boa.

    [...]

    É impressão minha ou há neste miniconto alguma coisa do Saramago? Senti a presença do gajo nestas linhas. Vai ver a expressão lusitana "toda a gente" tenha me provocado esta impressão. Apareça lá n'O Muro. Tem coisa nova lá, ora pois.

    Abraços.
    W.G.

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